O nome de Paulo Okamotto nas manchetes de jornais não é novidade. A imprensa insiste em mantê-lo nos cadernos políticos quando deveria confiná-lo nas páginas policiais. É a minha opinião por tudo que conheci e convivi com essa misteriosa
figura, responsável,
entre outras coisas, pela administração das contas pessoais do ex-presidente, desde o tempo
em que Lula presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. A leitura do Estadão de terçafeira, 11, me deu a sensação de estar vivendo de novo uma experiência já vivida. O chamado déjà vu,
termo inventado pelo filósofo francês Emile Boirac, que sonhava com o Esperanto um dia ser
a língua
universal da humanidade.
Dizem que até Santo Agostinho já teria pesquisado o tema que, segundo o santo, não passava de um erro de nosso cérebro difícil de explicar. Velha e longa
trajetória. Nos meus tempos
de militante, Okamotto fazia parte de um esquema paralelo ao da greve que
corria solto em 1979. Seu nome constava de uma lista de dirigentes sindicais
que deveriam assumir clandestinamente o sindicato, caso a diretoria eleita fosse
presa pela polícia
política.
Nessa mesma ocasião,
eu era um dos coordenadores da parte financeira do Fundo de Solidariedade que
funcionava na Assembleia Legislativa de São Paulo. Chegava muita grana do exterior. O Euro ainda
não
existia. Mas os dólares,
francos e marcos eram muito bem recebidos. O administrador do Sindicato, Sadao
Higuchi, era quem encaminhava os recursos vindos do exterior para o compadre de
Lula. Sadao morreu “afogado” na represa localizada nas
proximidades de Bragança Paulista em 13 de junho de 1998, em plena campanha
eleitoral. Lula fez questão de suspender todas as atividades para participar das
buscas. Quem conhece a represa, como eu conheço, não consegue entender o que aconteceu. Sadao morreu
afogado, mas tinha uma contusão na cabeça. Ele teria caído n’água e o barco teria se chocado com ele. Pequeno enorme
detalhe: tratava-se de um bote inflável. Em 1992, o PT elegeu vários prefeitos no estado. Indicado por José Dirceu e Aloísio Mercadante, assumi a secretaria de Finanças de São José dos Campos. A empresa CPEM, representada pelo
compadre de Lula, era a maior credora da prefeitura então comandada pela futura bailarina Ângela Guadagnin. Auditoria externa que contratei
comprovou uma série
de irregularidades. Informado pessoalmente por mim, Lula convocou Okamotto e
ordenou que ele me acompanhasse em uma conversa com seu compadre. Ou seja,
enviou-me para conversar pessoalmente com o acusado. Por outro lado, na mesma ocasião, Okamotto circulava pela prefeitura de São José em busca de lista de empresários credores. Ele não ocupava qualquer cargo no paço. Era evidente que buscava recursos paralelos, com
anuência
da então
prefeita. No mesmo dia em que a auditoria externa encerrou seus trabalhos e me
enviou o relatório
fui exonerado sumariamente a pedido de Paulo Okamotto e Paulo Frateschi,
segundo me relatou a própria prefeita. Algumas semanas antes da exoneração, sofri um atentado na então Rodovia dos Trabalhadores, hoje Ayrton Senna. O
carro ocupado por três
homens enormes tinha chapa fria, conforme informou a Polícia Civil onde registrei o Boletim de Ocorrência. Detalhe: o carro em que me encontrava era
dirigido por um funcionário de carreira da prefeitura, que urinou nas calças, literalmente. Poderoso no
governo Lula. Quando Lula foi
eleito em 2002, pensei seriamente em pedir asilo político em algum país europeu. Cheguei a ter pesadelos. Sonhava que
Okamotto era chefe da Polícia Federal. Fui dissuadido por meu sogro, um advogado
brilhante, Lupércio
Marques de Assis, que morreu logo após a posse do governo petista. Em 2006, defrontei-me
com Paulo Okamotto em uma acareação realizada no Congresso Nacional por ocasião da CPI dos Bingos. Na ocasião, entreguei formalmente uma vasta documentação aos congressistas. Duvido que alguém tenha lido. Mas uma coisa me chamou a atenção: o olhar de ódio com que Okamotto me encarava. Diante desse breve
relato, não
tenho nenhum motivo para por em dúvida o depoimento de Marcos Valério, um dos responsáveis pelo mensalão que o levou à condenação superior a 40 anos. Parece que foi para mim que
Okamotto disse: “Tem gente no PT que acha que a gente devia matar você. (...) Ou você se comporta, ou você morre.”
por Paulo de Tarso Venceslau
diretor de redação
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