quinta-feira, 21 de julho de 2016

Adivinhem ...




sábado, 16 de julho de 2016

MIRÓ de Muribeca - Poeta


PRIMEIRA SEMANA 
 Miró da Muribeca completa 56 anos no dia 6 de agosto. É poeta. Mas prefere se dizer cronista. “A minha poesia, a minha crônica, é exatamente a rua.” Afirma que não faz ficção e suas narrativas são encontradas nas esquinas, nos ônibus, nas noites, nas alcovas ou no passado. Mais que a rua, a poesia/crônica de Miró é a vida eternamente à deriva. Das cidades e das pessoas. Nosso primeiro encontro, em uma tarde de maio, ocorreu no Largo de Santa Cruz, centro do Recife. Sentamos em um bar com pássaros engaiolados, e a alguns metros um casal fuma maconha na praça. Para chegar ao Largo, é preciso atravessar a multidão da Av. Conde da Boa Vista, artéria vital de uma cidade já obstruída pela profusão de cheiros ruins, buracos nas calçadas e por onde o patrimônio histórico perde espaço para prédios feitos sob qualquer arquitetura. Quando não há o som das buzinas ou dos vendedores de várias coisas, há o carrinho de som tocando alto Lionel Ritchie (música: Stuck on you). Melhor. Ofereço água, mas Miró, que chega pontualmente, pede conhaque de alcatrão. Para além de poeta ou cronista, ele é símbolo de uma geração de artistas alternativos do Recife, que começou a publicar a partir dos anos 1980. Artistas que, por viverem o lado B da cidade, encarnam no próprio corpo as agruras das suas urbes com versos fortes associados a uma récita impactante. Com 15 livros lançados, tem se consolidado com um dos mais inventivos poetas em atividade no país. “Sempre que Miró vem à Balada é ovacionado”, aponta o escritor Marcelino Freire, organizador do festival paulistano Balada Literária. “Já recitou para Antonio Cândido, Adélia Prado, Augusto de Campos. Momento histórico foi Miró, na Balada do ano passado, ter encontrado Ignácio de Loyola Brandão. Miró tirou do bolso um poema que fez ali, em homenagem ao Loyola, e leu, para emoção geral do público”, lembra Marcelino. Em 2015, foi um dos homenageados da Bienal do Livro de Pernambuco. Seu último livro, aDeus (2015, Mariposa Cartonera), vendeu cerca de 3 mil exemplares em menos de um ano – um número de best-seller em se tratando de poesia e de um país em que as tiragens por edição de grandes editoras muitas vezes nem chegam a isso. “Normalmente, as pessoas procuram direto (o poeta), ele anda com as obras. Interessante que as vendas on-line representam uma parcela muito pequena, o que reforça o carisma do autor. Também o livro sempre é vendido nos eventos que participamos, mas numa quantidade menor que a venda direta dele”, afirma Wellington de Melo, editor e organizador da obra. No documentário Onde estará a Norma (2007, dir. Bárbara Cristina, Jacqueline Granja e Patrícia Gomes), Miró diz trabalhar com fotografias urbanas. Pega o lado mais caótico e sacana da cidade. “Nesse sentido, ela (a poesia) é verossímil”, explica. Aproveita as calçadas, a arquitetura árida, os cheiros e buracos do Recife como mote para versejar. Quando essa inspiração não vem de forma seca e imediata – como em “Por trás de um ônibus lotado / E uma cadeira vazia /Há sempre um grande vômito” –, vem com evidente lirismo: “Quatro horas / Quatro ônibus levando vinte e quatro pessoas / Tristonhas e solitárias / Quatro horas e um minuto / Acendi um cigarro e a cidade pegou fogo. / Cinco horas / Cinco soldados espancando cinco pivetes / Filhos sem pai / E órfãos de pão / Cinco horas e um minuto / Urinei na ponte e inundei a cidade / Seis horas / O Recife reza / E eu voando pra ver Maria.” Não apenas o Recife é motivo poético: “Quantos sacos di cimento / há em ti São Paulo? / Quiçá meu coração não fique concreto / Alguma coisa acontece? / A elite vai em massa a eletra / Substantivo concreto / Quem lê os campos? / Substantivo abstrato / Náufragos dessa onda / Atenção para o toque di 8 segundos.” Depois de ele falar sobre sua mudança de Muribeca, subúrbio da Região Metropolitana do Recife onde morou, para o centro da capital, resolvemos dar uma volta e seguir a um parque. Mas devagar, porque o poeta, já ébrio, fica tonto se andarmos rápido. No caminho, é cumprimentado por amigos e colegas de bar. “Sou popular”, diz, resumindo o óbvio. Passa a falar sobre o “alegrismo”. “Alegrista é quem bota para rir e pensar. O alegrista é o que diz na sua cara aquilo que você não quer escutar”, explica, tomando um gole de conhaque”. E emenda: “a minha poesia, ela tanto faz rir quanto chorar. Ela é verossímil. Ela não alivia. Não espere de mim algo tão leve”. No dia em que completa 56, Miró lança O penúltimo olhar sobre as coisas (Mariposa Cartonera) dentro da programação da Feira do Livro do Vale do São Francisco, em Petrolina (PE). “O tom desse livro novo é um desenvolvimento das reflexões de um Miró mais maduro, que refletem também uma nova espacialidade, com a mudança dele para o Centro, que curiosamente provocaram mais um lirismo existencial que a crítica social. Ainda está o humor, em alguns momentos, o que torna o tom de O penúltimo olhar... menos grave que a obra anterior (aDeus, permeada por tons existenciais e de solidão), mas sem abandonar esse olhar sobre o cotidiano, sobre a própria solidão”, explica Wellington de Melo. É o seu décimo sexto livro. Antes dele vieram Quem descobriu o azul anil? (1985); São Paulo é fogo (1987); Ilusão de ética (1995); Entrando para fora, saindo para dentro (1997); Flagrante deleito (1998); Quebra à direita, segue à esquerda e vai em frente (1999); São Paulo eu te amo mesmo andando de ônibus (2000); Poemas para sentir tesão ou não (2002); Pra não dizer que não falei de flúor (2004); Onde estará Norma? (2006); Tu tás aonde? (2007); Quase crônico (2010); dizCrição (2012); Miró até agora (2013, antologia); e aDeus. Exceto o último, os demais foram publicados de forma independente e são difíceis de achar, mesmo em sebos. Ainda há um livro pronto, provavelmente a ser lançado de forma independente: Não terás um centavo de minha alma. E Miró até agora ganha reedição revisada ainda este ano pela Cepe Editora, organizada por Wellington. SEGUNDA SEMANA Mais uma tarde de maio e encontro Miró, dessa vez sóbrio, no Bar Mamulengo, um dos mais conhecidos do Recife Antigo, depois do almoço. Começa a explicar que teve um mal-estar na semana passada, com formigamentos na cabeça e dores na área do fígado e no apêndice. “Aí resolvi parar de beber”, disse, empurrando para o lado um copo de suco. Passou a contar sobre um mal-estar que teve no ano passado. Ainda morando na Muribeca, ele acorda às 5h da manhã e vomita algo verde. “E eu estava sozinho dentro daquele prédio – na Muribeca não tem mais ninguém –, eu bebia de 6h30 da manhã”, lembra. O crescimento do bairro ocorreu a partir da criação de um habitacional popular nos anos 1980. Há sete anos, pelo menos, as moradias são desapropriadas pelo governo sob o argumento de realizar obras (como canais para saneamento básico) ou de risco de queda das edificações. Desde então, houve grande debandada de famílias. Na época (julho de 2015), o poeta acordava com o barulho da porta corrediça da padaria abrindo (“Muribeca é um silêncio”, explica). Depois tomava banho, descia, dava uma volta nas redondezas e, quando chegava à padaria, a atendente estava com uma lata de cerveja no balcão esperando. Bebia lá até às 8h, quando rumava para o bar mais próximo. Seguia assim até às 15h. Diariamente. “Eu comia pouco e o corpo reclamou”, diz. Caído no chão, próximo ao vômito verde, Miró pegou um palito para só assim conseguir discar no celular o número do escritor Wilson Freire, também médico e diretor do documentário Miró: Preto, Pobre, Poeta e Periférico (2008). Enquanto Freire tentava uma vaga no Hospital Oswaldo Cruz, no Centro do Recife, a poeta Cida Pedrosa mobilizou um carro para resgatá-lo. “Ele delirava. Não sabia se estava vivendo um sonho, se estava na realidade. Foi um período difícil. Mas, uma semana depois, ele estava bem, tinha ganho peso. No período que passou internado, acho que 15 dias ou um pouco mais, ele ganhou mais de 15 kg”, conta Wilson Freire. Foi nesse período que veio o nome para o próximo livro. O médico o advertiu sobre possíveis lapsos de memória e pediu que ele sempre desse o penúltimo olhar sobre as coisas antes de fazer algo ou antes de ir embora. O suco ficou quente na mesa do Mamulengo enquanto Miró falava. Lembrou o seu último livro, aDeus, lançado em seu aniversário do ano passado, durante um período em que se manteve sóbrio. Foram cinco meses sem beber. “Fiquei num estado de beleza comigo mesmo. Podia sentar com um cara e ele tomar um litro na minha frente que não dava vontade”. Nesse tempo, vieram viagens para participar de eventos literários e a homenagem na Bienal do Livro. Todas as suas declamações eram lotadas. Saía sempre ovacionado. Miró não lembra se era véspera de Natal ou dia 25. Estava sozinho na pensão e concluiu que não seria problema tomar dois copos de cerveja. “Para quem mora (em pensão), se não tiver uma família ele come até merda para se distrair”, diz. E seguiu para o bar, o mesmo onde nos encontramos na semana anterior (“acho que ele [o dono do bar] não fecha nem se a mãe morrer”). Lá, encontrou um vizinho completamente alcoolizado. “Ele não bebia há oito anos. Disseram que tomou três copos e capotou. Entendi isso como uma mensagem dos espíritos. Antes de sentar, eles me mostraram o vizinho bêbado. Se ele que está sem beber há oito anos estava assim, imagine eu? Mas ele me chamou para tomar duas. E aí morreu o boi”, conta. De dezembro a maio, bebeu frequentemente, mas sempre tentando parar. Não é fácil. “Tem recaídas frequentes. E, como Miró é uma pessoa sem estrutura familiar – não tem pai, mãe ou filhos –, ele sente a solidão. Combater o alcoolismo sem uma família é difícil”, diz Wilson Freire. Pondero que Miró tem amigos muito presentes. “O problema é que, quando o camarada está ‘bem’, todo mundo vai para sua casa, para suas famílias. E ele vai para a pensão sozinho, né? Olha para um canto, para outro e não tem ninguém”, pontua o escritor. Depois de muito falar, o poeta se levanta para uma rápida sessão de fotos. Despedimo-nos. No copo, o suco ficou pela metade. Uma forma didática de entender a figura do poeta alternativo no Recife é o filme Febre do rato (2011, dir. Cláudio Assis). O personagem central, Zizo, é uma síntese de várias figuras que povoam a boemia literária e a memória do Recife: França, Lara, Erickson Luna, Chico Espinhara e o próprio Zizo, além de Miró. É o artista que faz poesia nos bares, reúne pessoas em apresentações públicas geralmente improvisadas e aponta o dedo para as mazelas da urbe. “Essa crítica (à urbe) vem desde Carlos Pena Filho, com o Guia Prático da Cidade do Recife, e João Cabral de Melo Neto, com Cão Sem Plumas. É uma relação amorosa com a cidade. Se a gente ama, a gente denuncia”, pondera Cida Pedrosa. Sobre a poesia feita por essa geração, ela “é corporal, para ser vivenciada. E seus impressos tentam captar essa presença do corpo, através de opções editoriais como a programação visual diferenciada (aproximada da arte sequencial), impressões artesanais e distribuição pessoal. Para esses autores, vale dizer que seu meio de difusão é a performance poética”, escreve André Telles em sua dissertação de Mestrado (UFPE) sobre a interação entre corpo e poesia na obra de Miró. Percebe-se uma influência capital da geração mimeógrafo dos anos 1970 e de Bandeira. Dos primeiros, os ritmos, os trocadilhos: “merece / um / tiro / quem / inventou / a / bala”, diz Miró. Do segundo, o “lirismo não comedido”. Mas, se Bandeira já chega a apontar alguns horrores do cotidiano (como no seu conhecido poema O Bicho), Miró escancara. Um exemplo é o poema Carla: “Conheci Carla catando lata / seus olhos brilhavam / como alumínio ao sol / São Paulo ardia / Num calor de quase quarenta graus / Pisou na lata / como pisam os policiais / nos internos da Febem [...] / Nem tanta polícia / muito menos catadores de lata, / Os olhos de Carla / Nem desse poema precisavam.” Algo que marca diferença entre Miró e os poetas de sua geração é a opção dele, em diversos momentos, por poemas longos. São vários exemplos, nos quais se destacam Confesso que vivi meio século, Onde estará Norma? e Ilusão de Ética. Textos que se aproximam bastante da crônica ou do miniconto. Em se tratando de conteúdo, Miró reflete o cotidiano negro e periférico das grandes cidades brasileiras. Diz ele que, na década de 1980, vinha com um amigo de um festival quando cruzou com dois policiais. Como estavam sorrindo, os policiais pararam e perguntaram “Tá rindo de quê, boy”? “De nada, senhor”. Ao que um dos fardados respondeu: “quem ri da polícia se fode”, e bateu no rosto de Miró. O outro policial tentou apaziguar os ânimos. Perguntou pelos documentos. O agressor quis saber onde o poeta morava. “Ibura” (bairro pobre na zona sul do Recife). “Aí é que vai ser bom mesmo”. Levou os dois jovens para uma rua escura. Tirou o cinturão e começou a agredir o poeta, que fora arrastado pelo policial a outros lugares. Miró diz se sentir estilhaçado até hoje. “Para mim, Miró é uma versão atualizada de Solano Trindade (1908–1974; poeta pernambucano), com esse canto da negritude periférica, da população que navega pelo centro da cidade”, opina Wilson Freire. O artista ainda é autor de versos eróticos, amorosos, existenciais e melancólicos, poesia invisível nos recitais de que participa e que estão, nos seus livros, lado a lado com os “poemas-denúncia”. O erotismo é explícito, com poemas que constroem imagens concretas e cotidianas, sem sutilezas, como em H2Love: “Não tinha mais como esconder / Era o cara da água passar / E ela ficar toda molhada.” Os melancólicos, em geral, vêm associados a temas amorosos – como em Amamos, dedicado a uma ex-namorada: Tecemos fios para / nossos sonhos / mas um dia despencarmos / feito fruta madura num / pomar abandonado”. Os existenciais, que nas primeiras obras vêm a partir de cenas do cotidiano associadas ou não com a solidão: “Certos estranhos / pedaços de rua / Habitam meu olhar. / A solidão sentada / no colo das vovós / novelo de linha, / traçando o tempo / veloz das esquinas”. Nessas vertentes, Miró, mais uma vez, deixa entrever Bandeira, mas percebe-se uma influência de Drummond. “Drummond é o poeta que mais amo”, afirma. “Acho que as pessoas conhecem mais as ‘poesias- denúncia’ de Miró porque é o que ele mais apresenta nos recitais. Talvez porque a poesia de amor seja vista como algo menor, hoje em dia. Mas não é”, opina Cida Pedrosa. TERCEIRA SEMANA Encontramo-nos mais uma vez no Bar Mamulengo e Miró, como sempre, pontual. Naquele dia, estava com uma camisa preta, estampada com uma foto de si junto à mãe, dona Joaquina. Tocamos no nome dela e ele se emociona. Emendamos a falar sobre os processos de criação poética. A conversa avança pouco. Depois de falar sobre morte, ele pede para ir embora. Faz um prato de comida, põe na marmita e seguimos até o táxi. A morte da mãe, em 2012, foi um baque severo para Miró. A família se resumia aos dois, que moraram em vários subúrbios antes de chegar à Muribeca, nos anos 1980. Os pais de Miró – cujo nome de batismo é João Flávio Cordeiro da Silva – se conheceram no Madeira do Rosarinho. Ao livro Poesia, mesa de bar e goles decadentes (Nektar), do fotógrafo Camilo Soares, dona Joaquina recordou que o homem tinha nove amantes e que, se ela não ficasse com ele, as outras nove moças chegariam junto. Dançavam a noite toda. “O nome dele era João Godofredo. Segundo minha mãe, era casado e gago... talvez por isso eu fale tanto”, brinca o poeta. Ele garante nunca ter visto o pai, mas no livro de Soares é dito que chegou a encontrá-lo duas vezes. Também teve uma irmã, Fátima, que, de acordo com a obra, morreu aos 9 anos vitimada pela tuberculose (Miró diz que ela morreu aos 6 anos em meio a uma crise de asma). “Minha mãe nunca mais pôs um homem dentro de casa”, diz. “Eles tinham uma relação difícil porque havia muito amor, muito foco um no outro. Havia complicações também porque Mirobaldo não é fácil, ele é um cara independente”, lembra Flavão, quadrinista e amigo de Miró há mais de 20 anos. “Mirobaldo” foi o apelido dado pelo artista plástico Maurício Silva ao poeta, ainda nos anos 1980. “Ele morava na Quadra Revoredo, um conjunto de casinhas que ficavam onde hoje é o Hospital Oswaldo Cruz. Eu morava na Rua Dom Vital, bem perto. E jogávamos peladas de rua. Como ele jogava muito, logo o apelidaram de Mirobaldo, um jogador do Santa Cruz. Daí, para ajudar o amigo, sempre tinha um trabalho para ele em nossas casas, afazeres domésticos ou jardinagem”, lembra Silva. Para a construção do Hospital Oswaldo Cruz, houve o despejo de famílias da Quadra Revoredo. Miró e a mãe se mudaram para a Bomba do Hemetério (bairro popular na zona norte do Recife) e depois para o Ibura, antes de ganhar um apartamento no Conjunto Habitacional Muribeca, doado pelo governo do estado. Foi na casa de Silva – frequentada por artistas – que Miró conheceu MPB, poesia e outras formas de arte. Também foi por influência do artista plástico que ele decidiu ser poeta. “Foi ao ler um poema dele. Farda verde, verde, verde (...) ”, recita. Quando decidiu ser poeta, os amigos abreviaram o nome para Miró. “Depois adotou o nome do bairro para onde se mudou, Muribeca”, recorda Maurício Silva. O poeta estudou até o Ensino Médio. Tentou vestibular para jornalismo, sem sucesso. Então, o pai de Maurício Silva conseguiu para ele um emprego como servente na Sudene. Enquanto limpava os banheiros, parava para escrever poemas. Foi descoberto pelo também poeta Wilson Araújo, que trabalhava lá. “Era (ele) alguém cantando acho que Caetano (Veloso) enquanto limpava um banheiro”, lembra Araújo, que o ajudou a publicar poemas em jornais. Naquele ano, 1985, Miró lança seu primeiro livro, Quem descobriu o azul anil?. Largou o emprego e decidiu viver de poesia. Seguiu para o Petrolina, no Sertão, onde tinha um primo distante. Foi para passar um tempo e vender o livro recém-lançado. De lá, para Juazeiro (Bahia) procurar Manuca Almeida, poeta que já tinha visto recitar no Recife. É notável a influência de Manuca no jeito mambembe com que Miró recita poesia. Juntos, foram às rádios para divulgar a obra. “Era um menino normal, todo certinho e arrumadinho, tímido. O livro era assinado ‘João Flávio (Miró)’. Eu disse a ele que o nome tinha que ser apenas Miró”, conta Manuca. Ele explica que a récita dele, absorvida por Miró, consiste em ligar fala e corpo, além de usar “tudo que era ruim em mim como elemento para a minha poesia”. Voz, gestos e, por vezes, a roupa se unem à linguagem popular para dar vida a uma poética em que o corpo vai reverberar os trânsitos e transeuntes da vida desigual e feroz das urbes. Sua forma de reclamar permanece praticamente a mesma, desde que Miró passou a se apresentar publicamente. Então, o que mantém vivo o interesse no trabalho dele? “Ele não é um fenômeno porque recita bem. Se não tivesse uma obra, essa récita, que não é de ator, já teria se exaurido por si só. Não se exaure porque a obra dele é forte e se renova”, ressalta Cida Pedrosa. A obra já virou documentários, HQ, música e há projeto para virar teatro, com o grupo pernambucano Magiluth. A partir de então foram sucessivas viagens, namoradas e apresentações por todo o Brasil, mais ou menos longas e sempre intercaladas com voltas à Muribeca. Por onde passou, deixou amizades. “Trabalhava como gerente de uma livraria em Fortaleza. Em um recital, ele apareceu. Fiquei muito impressionada”, conta a escritora Socorro Acioli, que o ajudou a reeditar o livro Ilusão de ética, em 1998. Em Fortaleza, Miró fez propaganda política, vendia seus livros e ajudava a namorada (com quem morava à época na capital cearense) a vender artesanato. “A convivência com ele era muito engraçada. O único problema que tivemos foi que na livraria havia uma garrafa de licor para os clientes, e ele bebia tudo quando chegava lá”, diz Acioli. Miró começou a beber aos 21 anos. Conta que foi para comemorar a vitória do Sport Club do Recife em um campeonato. Depois muda: fala que foi em uma festa de aniversário. Quando virou alcoolismo, não se sabe. “Difícil determinar isso. Porque isso é uma visão meio clínica que a gente não tem. Porque quando você bebe, ficar bêbado é uma coisa que faz parte do jogo”, pondera Flavão. Ele pontua que a questão com o álcool é anterior à morte da mãe. “Acho que para as pessoas entenderem (a doença), elas precisam colocar a culpa na morte da mãe. Isso é simplificar. Não foi isso. Claro que o falecimento da mãe e ter ficado sozinho em Muribeca foram fatores depressivos. Ele ficou morando sozinho em um prédio sem outros moradores”. O poeta se mudou de Muribeca para o Largo de Santa Cruz no ano passado, após sair do hospital. Em 2012, a mãe, com saúde perfeita, disse ao filho que queria voltar para a cidade natal, São Bento do Una (Agreste). Foram. Três meses depois, ela teve um AVC e morreu. “Era uma mulher espiritualizada. Talvez soubesse, não sei”, opina Cida Pedrosa. Em 2014, Pedrosa fez a curadoria de um festival literário em São Bento e chamou Miró para participar. “Ele aceitou, disse que seria bom para fazer a catarse. Mas acho que não fez bem. Ele deitou e rolou no chão. Acho que foi muito forte”, diz. aDeus, o livro mais recente, é permeado por um tom existencial influenciado pela solidão de morar no Centro e pela morte da mãe. Solidão é no caixa eletrônico / esquecer a senha / solidão é planta / sentir falta d’água / ver Muribeca indo embora [...] / as lágrimas caindo / e você com esperança / que a chuva molhe o chão. Mostra, também, uma procura às avessas por Deus (já presentes em obras anteriores)como em: no príncipio / não havia nada / hoje também. E ainda: umas folhas verdes / nasceram entre dois prédios / Deus insiste / para que eu acredite nele. QUARTA SEMANA Em fuga da chuva, não conversamos muito e seguimos rápido para o carro. Vamos para um ensaio fotográfico na praia e no centro do Recife, próximo ao Mercado de São José. “Tanto tempo que não ando por aqui”, diz Miró, sóbrio. Dias antes, sentiu-se mal mais uma vez, com febre. Foi melhor assim: conseguiu passar dois dias sem beber. Foi para casa de uma amiga e lá decidiu resolver algumas pendências para visitar, no mesmo dia, uma clínica de reabilitação. “Um amigo meu conseguiu uma vaga na clínica do pai dele”, conta. Seguimos. Ele lembra quando, pequeno, ia com a mãe comprar mantimentos no Mercado. “Ela tinha uma barraca onde vendia bebidas e petiscos, ainda na Quadra Revoredo. Depois que saímos de lá, ela virou lavadeira em um hospital.” Posa para as fotos. Perto, um cavalo urina com tranquilidade. Na frente do poeta, freiras fecham os portões da igreja de São José de Ribamar. “E ainda dizem que é a casa de Deus”, comenta o poeta. Encontra uma amiga que não vê há muito tempo, “desde os anos 1980”. Miró faz gestos para a câmera enquanto as pessoas passam. Desinibido, como ao falar da própria história. Sem reservas, não é avaro de si, das histórias que viveu. Na praia, tira a camisa. Fica com o colar de contas rosas, que afirma ter as energias da orixá Nanã. “É a minha marca, não vou tirar”. O nublado dá um ar estranho às imagens, algo quase fora do tempo. Junho, às vezes, tem tardes de maio. “Tenho amigos que gostam de mim. Preciso me cuidar. Se eu morrer, é bom porque eu vou embora. Mas se eu tiver um AVC, quem vai cuidar de mim?”, indaga ele, em meio a explicações sobre sua opção pelo tratamento. Se estamos todos à deriva (não que notemos isso), cada um se salva como pode. Alguns, como Miró, se permitem salvar os outros com suas poesias, lançando luz sobre os escuros das ruas e das casas, cidades e privacidades. Possíveis traduções para esse impacto que a poesia dele causa no leitor: “A poesia ensina a cair” (Luiza Neto Jorge); “A poesia não salva o mundo, mas salva o minuto” (Matilde Campilho). Não que redima a dimensão prática da vida, mesmo a de Miró. É preciso agir. Mais tarde, naquele dia, fico sabendo que ele chegou à clínica de reabilitação para conhecê-la e por lá ficou. Os poemas que ilustram estas páginas estão no livro inédito do escritor, que será lançado em agosto, pela Mariposa Cartonera.

sábado, 26 de dezembro de 2015

sábado, 28 de novembro de 2015

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A Cor Da Moda


A Cor Da Moda
É o Vermelho Chacina 18,
Atingiu a maioridade!
Vem “profissa”,
Com carteira de trabalho, 
Sem passagem na “poliça”, 
Tá na roupa da elite,
Aquela mesma que permite,
Que seu filho grite. 
-”Que volte os militares”!
Como se fossem seus pares,
Que abre a Paulista no Domingo,
Bingo!
Acertaram em cheio!
Vamo lá, Pezão!
Atravessar a ponte de horrores,
Mostrar nossas “cores”?
A da moda é o Vermelho Chacina 18!


will

quinta-feira, 23 de julho de 2015

sábado, 18 de julho de 2015





terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Deixar de ser racista, meu amor, não é comer uma mulata!

Considerações sobre elogios racistas

Por Charô Nunes para as Blogueiras Negras
Elogio racista é toda demonstração de admiração, afetividade ou carinho que se concretiza por meio de ideias ou expressões próprias ao racismo. Com ou sem a intenção de, que fique bem claro. Um dos mais conhecidos é o famoso “negro de alma branca” que nossos antepassados tanto ouviram. Mas não são apenas nossos homens que conhecem muito bem os elogios racistas. Nós mulheres negras também somos agraciadas com esses pequenos monstrinhos, usados inadvertidamente por amigxs, familiares. Muitas vezes até por nossos parceirxs.
Decidi fazer uma lista com 5 elogios racistas (e sexistas, diga-se de passagem) que muitas de nós escutamos quase que diariamente. Alguns são consenso, acredito. Outros nem tanto. Fico aguardando ansiosa para que você, mulher negra, deixe seu comentário dizendo se também acontece com você. Se concorda, se discorda. E sobretudo, o que você faz para deixar bem claro que o elogio racista pode ser tudo, menos benvindo e apreciado.
Adriana Alves é atriz e frequentemente é chamada de morena

01. “Você é uma morena muito bonita”

Esse é o elogio racista que mais escutei em toda minha vida. Minhas primeirass lembranças são do tempo da escolinha. Mesmo mulheres como Adriana Alves ainda são chamadas de morenas, pois se acredita que chamar alguém de negra é uma ofensa racial. Se você precisa se expressar, tente um simples “você é bonita ou atraente”. Ou ainda “você é uma negra linda”, o que, dependendo do contexto pode ser tão ruim quanto.
Mas em hipótese alguma diga que uma negra é morena, moreninha, morena escura. Que não é negra. Isto sim é racismo dos graúdos, pura e simplesmente. Quando acontece comigo, digo que não sou morena e nem moreninha, sou n.e.g.r.a. O bom é que, dependendo de como essa resposta é dada, a pessoa já se toca que ela não deveria ter começado o conversê, que simplesmente não estou disponível para esse tipo de diálogo. Nem com conhecidos, muito menos com estranhos.

02. “Seu cabelo é muito bonito, posso pegar?”

Há alguns anos atrás, uma senhora ultrapasssou todos os limites de uma convivência pacífica ao se aproximar de mim, cheia de dedos, me tocando sem permissão e dizendo que eu tinha uma “peruca muito bonita”. Não retruquei de caso pensado, antecipando seu constrangimento por jamais ter cogitado que uma mulher negra pudesse ter um cabelo comprido, ao natural. Minha vingancinha, e sou dessas, foi olhar aquela expressão de arrependimento por ter percebido o que fez.
Entendo que simples visão de uma negra com cabelo natural pode ser inebriante. Que persiste a completa desinformação sobre o nosso cabelo. Porém, isso não justifica o toque sem permissão. Não importa se é cabelo natural ou não. A menos que você conheça muito bem a pessoa, não toque em seu cabelo sem consentimento. Eu iria mais longe. Para mim a boa etiqueta simplesmente reza que não se deve nem mesmo pedir para tocar o cabelo de uma pessoa desconhecida.

Alek Wek é uma modelo de traços delicados
Alek Wek também é uma modelo de traços delicados

03. “Você tem os traços delicados”

Dizer que uma negra tem traços “delicados” muitas vezes tem a ver com a ideia de que será bonita se tiver uma expressão “fina”, leia-se semelhante a de uma pessoa branca. Como se determinado tipo de nariz (ou bochechas) fosse exclusivamente dessa ou daquela etnia. Uma de suas variantes é outra expressão igualmente racista – “você é uma mulher negra bonita” – algo que ao meu ver é a mesma coisa de dizer que “você é bonita para uma negra”.
Afinal, qual a dificuldade de dizer que uma mulher negra simplesmente é… Uma mulher bonita? Porque Alek Wek tem de ser descrita como uma “mulher negra bonita” enquanto as mulheres brancas são apenas “mulheres bonitas”? Mais uma vez, toda a sutileza do elogio racista. Ele reconhece que você é uma pessoa admirável, mas sempre fazendo questão de te colocar “no seu lugar”, como se algumas fronteiras jamais pudessem ser cruzadas.

Cena de Vênus Negra, de Abdellatif Kechiche
Cena de Vênus Negra, de Abdellatif Kechiche

04. “Você tem a bunda linda”

Essa é uma opinião que certamente não é unânime. Faço questão de expressá-la como uma provocação que representa o pensamento de uma parcela significativa de mulheres negras. Para muitas de nós, esse comentário expressa a hipersexualização a que somos historicamente submetidas como exemplifica a triste biografia de Saartjie, denominada a Vênus Hotentote, exposta como atração circense em função da admiração que suas nádegas causaram na Europa do século XIX.
Apesar de todo respeito que tenho por tudo aquilo que acontece entre duas pessoas, preciso considerar a tradição racista secular desse tipo de discurso. Trata-se de reduzir a mulher a um pedacinho do seu corpo, desconsiderar sua humanidade, transformá-la num pedaço de carne exposto no açougue como aconteceu e acontece diariamente. Meu conselho é pergunte antes se a mulher a quem você pretende cumprimentar tem a mesma leitura desse tipo de elogio.

Mulata da Leandro de ItaqueraMulata da Leandro de Itaquera

05. “Você é uma mulata tipo exportação!”

Esse elogio ainda o tratamento dispensado à mulher negra no seio da senzala, da casa grande. O pensamento que nos reduz em brinquedos sexuais. Dizer que uma mulher negra é uma “mulata tipo exportação” é esquecer uma tradição escravocrata secular, que transforma a mulher negra em “peça” que alcancará boa cotação no mercado onde a carne mais barata é a nossa. O nome desse mercado é exotificação. Em alguns casos, hiperssexualização.
Infelizmente também estamos falando sobre o modo racista com que as mulatas de escola de samba, mulheres que respeito e admiro, são mostradas e consumidas. Mulheres que levam o samba no pé, no sorriso, na raça. Que, ao invés de serem uma referência de beleza, são vendidas como frutas exóticas na temporada do carnaval. Mulheres que recentemente tem sido preteridas por “personalidades da mídia” em nome de uma pretensa “democracia racial” e muitas vezes com a anuências de algumas agremiações.

Qual é a sua opinião?

Porém, preciso dizer que os elogio racistas podem (e devem)  subvertidos. Quando o assunto são as mulatas de quem já falei aqui, isso é bastante evidente. Ser uma mulata exportação também atesta um padrão de excelência e traduz qualidades como perseverança, força. Minha professora de dança adora dizer que a graça de uma bailarina é diretamente proporcional à sua força. Mulatas são a expressão mais concreta desse enunciado.
Por isso fiz questão de usar como título desse post, um trecho do poema de Elisa Lucinda, Mulata Exportação, que resume tudo o que tentei dizer até aqui: “deixar de ser racista, meu amor, não é comer uma mulata” como muita gente gosta de pensar. E acrescento, “opressão, barbaridade, genocídio, nada disso se cura trepando com uma escura!”Muito menos tecendo elogios racistas, diga-se de passagem. Quem o diz é a mulata exportação do poema. Sou eu, somos todas nós que já ouvimos essas porcarias.
Confesso que essa lista tem algo de muito pessoal, cujas entrelinhas tem muitas dedicatórias alimentadas por ironia. Nem por isso menos pertinente. Por isso adoraria ouvir a opinião de vocês. Esqueci algum elogio racista que te incomoda? Que te fez espumar de ódio, revirar os zóios e dizer algumas verdades? Você também acredita que esse tipo de comentário, como tudo aquilo que é racista e preconceituoso, diz muito sobre a pessoa que o faz do que sobre a pessoa a quem se destina?
Me conta!

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

domingo, 26 de outubro de 2014

domingo, 31 de agosto de 2014

Assíduos!



sábado, 30 de agosto de 2014

HOSPITAL DA GENTE - Naloana Lima


HOSPITAL DA GENTE - Mayra Galvão


HOSPITAL DA GENTE - Martinha Soares


HOSPITAL DA GENTE - Naruna Costa


HOSPITAL DA GENTE - Alaissa Rodrigues


Carta aberta sobre a Amazônia brasileira - 2003


Reunido em Louziania (GO) no mês de setembro de 2003, o Encontro Nacional
de líderes Jovens em Defesa do Meio Ambiente (Grupo de Trabalho), com cinqüenta representantes de 512 entidades de diversos segmentos socioambientais da Amazônia, e duzentos e oitenta e seis participantes, vem alertar o governo e a sociedade brasileira para a necessidade de medidas urgentes diante dos conflitos que ameaçam a maior floresta tropical do mundo e as populações tradicionais e indígenas daquela região.
Nesse Encontro, extra-oficialmente, tivemos a oportunidade e a possibilidade de estarmos em contato com Will Damas, ator, diretor, psicodramatista, fundador da APTA, Associação para Prevenção e Pesquisa da Aids, em São Paulo, Membro da Sociedade Lítero-Dramática Gastão Tojeiro, Integrante do Engenho Teatral e que nesse encontro participava apresentando-se no espetáculo "Chico Mendes" como ator, que nos foi apresentado no encerramento de nossas atividades. Sua pequena, mas importante participação, nos animou a concretizarmos e referendarmos esse Encontro como Congresso, já que sem sua proposta de pautarmos e objetivarmos um documento para apresentação aos representantes do Ministério, nos elevou a um patamar que jamais teríamos consciência, se não fosse a experiência política e administrativa, e o conhecimento dos meandros executivos do Governo que nos apontou. Esta carta ora apresentada, jamais teria sido possível, sem a fala "da madrugada", como ele mesmo gostou de nominar, ao qual atentamente nos privamos do sono necessário, para ouvirmos, depois de um dia intenso de discussões e reclamações, que, sem dúvida não estaríamos preparados para inferir. Depois de assistirmos ao espetáculo, que nos iluminou com a historicidade do maior líder ambiental do Brasil, percebemos que este cidadão, merece ser citado de hoje em diante, como um dos mentores necessários para qualquer discussão generalizada do Brasil, no que diz respeito à biodiversidade do Planeta. Sua consciência dos meios e dificuldades que o país enfrenta para concretizar planos e projetos para um Brasil melhor vai além dos nossos calcanhares e conhecimentos. Estamos votando uma normativa para que nosso documento tenha seu nome e que sua presença seja solicitada sempre que possível nos nossos, agora, graças a ele, Congressos.
Pesquisamos com amigos, professores, membros de Associações e pessoas ligadas a movimentos de transformação social em tempos passados, e descobrimos que Will Damas ( Wilson Damas ), foi um dos mais corajosos e aguerridos
defensores de uma mudança radical do comportamento político em nosso país, sofrendo com castigos da época, todo tipo de agressão pelo regime ditatorial. Preso com 16 anos, quando já estudante da Faculdade de Sociologia e Política de São Paulo, e que nunca fez questão de ser citado ou nominado pelo seus feitos. Estamos apontando para uma falha histórica do nosso Brasil. Entramos em contato antes da formatação deste documento; humildemente, do mesmo modo como atuou em Louziânia, apontou falhas no documento, esclareceu dúvidas, e pediu que seu nome não fosse citado, (com humor) ,
pois não era mais "jovem" e esse documento deveria ser de "jovens". Sabemos que este documento é "nosso", mas contrariando seu desejo, escrevemos este parágrafo, nós todos, representantes de todo o Brasil, por acreditarmos relevante sua participação, e não incutirmos no mesmo erro de historiadores de época passadas, de não creditar às pessoas certas, a dignidade, a ética e principalmente, a solidariedade e luta de homens que mudaram este país. A sua atuação quando jovem, como coordenador político para organização da UNE, União Nacional dos Estudantes, nos difíceis tempos da ditadura, e que por razões pertinentes, abandona sua luta partidária para ser co-fundador do CCA – Centro de Cultura Anarquista, (1967) por não concordar com a "covardia" dos, então atuais gestores do movimento estudantil que, hoje, se auto-nominam "torturados", "exilados", etc, e que, em sua maioria, como podemos descobrir através do tempo e da história, foram "auto-exilados", e que hoje usam esse jargão de "vítimas" nos seus postos de escalão governamental, nas suas áreas de atuação, para sensibilizar os mais desatentos para suas propostas, foi o estopim para a formação de um sociedade civil organizada para combater o então, atual regime. Após este esclarecimento e reconhecimento, estamos divulgando as propostas, tiradas em reuniões regionais.
A Rede surgiu no âmbito da Cúpula das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92), para defender
a importância das comunidades da floresta no desenvolvimento sustentável da região, e funciona com 16 coordenações regionais distribuídas pelos nove estados amazônicos. Reúne entidades de pescadores, de agricultores familiares, de seringueiros, de povos indígenas,  de quilombolas, de ribeirinhos, de quebradeiras de coco abaçu, ambientalistas, de assessoria técnica, pesquisa e direitos humanos. Desenvolveu-se e cobriu todo o Brasil, e nos proporcionou esse Encontro, para a formação de uma Rede Independente de líderes jovens. Nos últimos dez anos, enquanto os grandes projetos de infra-estrutura continuavam o padrão predatório, centenas de iniciativas comunitárias criavam um novo modelo de esenvolvimento amazônico baseado no manejo sustentável de recursos naturais e na gestão participativa de políticas públicas. Em alguns casos, esse modelo foi assumido por diversos setores públicos, criando novas maneiras de pensar e agir em conjunto com a floresta e suas comunidades.
No entanto todo esse processo não está sendo levado em consideração por muitos dos atuais dirigentes federais, estaduais e municipais e isso tem gerado o crescimento da violência no campo, a partir das ações de quadrilhas organizadas de invasores de terras públicas. A ausência do Estado e a impunidade têm proporcionado o desmatamento ilegal, a expulsão de comunidades, a morte de lideranças indígenas tradicionais e de agricultores familiares, a invasão de áreas já protegidas por lei e o incentivo ao latifúndio, com o favorecimento de grupos que depredam a Amazônia. Ressaltamos o empenho lúcido de setores como é caso exemplar da ministra Marina Silva. Diante dessa situação, a Rede denuncia a inviabilidade de um modelo embasado apenas na proteção de algumas áreas com a devastação do restante do território amazônico. E reafirma a necessidade do desenvolvimento justo e sustentável como eixo para as políticas públicas em todos os níveis, exigindo ações
imediatas em defesa das comunidades da floresta e de suas lideranças, principalmente no que se refere a:
1. Implementação de grandes projetos de infra-estrutura na Amazônia que estimulem o latifúndio, a expulsão de comunidades, a perda da biodiversidade, a especulação de terras. Como são exemplos preocupantes os projetos dos gasodutos Urucu-Coari, Urucu-Porto Velho e Urucu-Manaus, as hidrovias nos rios Madeira e Araguaia-Tocantins, as barragens hidroelétricas do Complexo Madeira, de Belo Monte e dos rios Araguaia e Tocantins. As rodovias como a Cuiabá-Santarém, Manaus-Porto Velho, Rio Branco-Cruzeiro Sul. Diante desses riscos, a Rede propõe uma moratória a grandes projetos propostos pelo governo até a realização e apresentação de estudos de impacto ambiental e social qualificado com a participação do Ministério Público Federal e da sociedade civil organizada.
2. A falta de ordenamento fundiário efetivo tem contribuído para o aumento de conflitos e violência no campo. Isso envolve atentados e ameaças a funcionários públicos, principalmente do Ministério do Meio Ambiente, do Ministério do Desenvolvimento Agrário e da Fundação Nacional do Índio. O recente caso ocorrido com a diretora do Fundo Nacional de Meio Ambiente, Raimunda Monteiro, em Guarantã do Norte (MT), apenas expõe com mais veemência uma situação que já acumula mortes de muitas lideranças comunitárias. Em face disso, a Rede reivindica do governo federal um processo aberto, participativo e mais efetivo na criação e implementação de unidades de conservação e dos assentamentos. Esperamos não repetir o modo pouco participativo de criação do Parque Nacional do Tumucumaque e também que o Incra não promova assentamentos no entorno de áreas protegidas. Reivindicamos ainda a realização e o cumprimento do zoneamento socioeconômico e ecológico para todos os estados da Amazônia.
3. Estruturação institucional do governo federal, do ponto de vista das comunidades da floresta, ainda desarticulada e tendendo a repetir erros de governos passados. Uma evidência desse alerta é a contradição entre políticas propostas no
Plano Plurianual 2004-2007 e o Plano Amazônia Sustentável, ainda em discussão. Também os riscos da reedição da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e o sucateamento de organismos como Incra, Ibama
e Funai. Neste aspecto, a Rede propõe:
- definição da política indigenista que oriente a reestruturação da Funai, com abertura de concurso público, qualificação de recursos humanos e orçamento compatível;
- a criação de uma diretoria no Ibama e na Polícia Federal, especializadas nas relações com as populações tradicionais, com recursos humanos, equipamentos e orçamentos próprios;
- o cancelamento, por parte do Incra, dos protocolos prévios de grandes áreas, onde o desmatamento começa antes de quaisquer autorizações ambientais ou de posse regularizada;
- a integração dos ministérios, para que trabalhem de forma cooperativa e não conflitiva, consolidando uma política federal unificada para a Amazônia;
- a revisão do Plano Plurianual, com garantias de participação da sociedade civil em todo o
processo;
- a garantia de diálogo permanente entre governos federal, estaduais e municipais e a sociedade civil organizada, para formulação e realização dos programas e ações governamentais.
- o reconhecimento do Plano Amazônia Sustentável como norteador do Plano Plurianual para a região.
4 . Expansão de atividades econômicas impactantes, centradas na mineração, na exploração madeireira, expansão pecuária,
do monocultivo da soja e florestamento, que tem aumentado drasticamente as taxas de desmatamento, os conflitos sociais e a
concentração de renda nas áreas onde são implementadas. Não existe política de controle dessas atividades, comprovadamente predatórias, inviabilizando a implementação de modelos sustentáveis baseados nas experiências locais.
Diante disso, a Rede propõe que o governo federal adote medidas reguladoras destas atividades predatórias, impedindo a expansão indiscriminada e irregular dessas atividades, que trazem sérios prejuízos ambientais e exclusão social.
5. Empréstimos internacionais, tomados por governos que desconsideram processos participativos e experiências locais, também têm gerado impactos negativos. Constatando isso, a Rede propõe a suspensão de financiamentos a estados cujos governos promovam o desrespeito ao meio ambiente e suas comunidades ou incentivem a invasão de terras indígenas e
unidades de conservação. Ações emergenciais Criação imediata de força-tarefa para resolver conflitos fundiários e investigação dos Planos de Manejo Florestal nas regiões do Baixo Amazonas, Sudeste, Sul e Oeste do Pará, Norte do Mato Grosso e Rondônia. Garantia imediata de integridade física e territorial para o povo indígena Cinta- Larga, de modo a impedir novo genocídio em curso. Acionar o Painel de Inspeção do Banco Mundial sobre a situação das unidades de conservação de Rondônia criadas com empréstimos da instituição. Proteção dos conhecimentos das populações tradicionais e indígenas, em suas áreas de existência e em políticas adequadas de etnodesenvolvimento, para combater a biopirataria. Homologação imediata da terra indígena Raposa Serra do Sol (RR) e registro cartorial da terra indígena Uru-Eu-Wau-
Wau na área litigiosa do Burareiro (RO).
Regularização de critérios participativos para a concessão de rádios comunitárias, como um meio efetivamente amplo de comunicação para comunidades amazônicas. Implantação imediata do Programa de Desenvolvimento Socio ambiental da Produção Familiar Rural (Proambiente), para toda a Amazônia. Imediata implementação de processo participativo para
criação das unidades de conservação em Guarantã do Norte (MT). Definição de política para a pesca artesanal, incorporando a contribuição das comunidades. Apoiar financeira e tecnicamente as redes de produção sustentável na área de pesquisa de produtos, mercados, comercialização e certificação. Imediata recuperação da Transamazônica.

Grupo Nacional de Líderes Jovens em Defesa do Meio Ambiente
Carta 01- WD

domingo, 11 de maio de 2014

Ensaio Geral (Por Naruna)

 casal+nuna+e+marinho.jpg

E então, a luz apagou


a platéia sumiu

o cenário revelou-se sucata.

Trapo, o figurino

Borrão, a maquiagem

E a personagem...

Ilusão.

E a magia acabou.

E tudo (que era o mundo)

agora falso, bobo, inútil.

Um vão.

"Meu Bem" era meu maior espetáculo

Minha melhor platéia.

Eu me bastava ali e

juntos, não cabíamos em nós.

Hoje, marionete sem fios

penso:"Como caminhar?"

Boneco que sou

Onde vou

Sem meu animador?

Dez anos de companheirismo, amizade,

carinho, respeito,

Lutas

Sonhos

Amor.

Um amor que era só cuidar

Querer bem.

Nosso pacto: "Meu bem".

Meu bem passarinho

que estava "Sempre bom!"

bem humorado

meu Marinho

generoso, iluminado.

Voou.

Voou de meus braços

E eu, sem asas, não pude alcançar.

Julieta abandonada

viva

no fim da trama

Sem par.

E o espetáculo

que era sucesso desde a estréia

Acabou.

Só deixou a lembrança e a esperança

de re-estrear

em outro teatro

de outro lugar.

E até lá

A vida segue em longo ensaio de quase verdades

leituras brancas

breves esquetes

e muitas passagens...

Técnicas.


Mas ainda resta um foco!

Um tímido refletor que sobrou aceso em mim.

E ele vai servir, sei, para manter iluminado

o coração do CLARIÔ

Filho amado

Fruto de raro amor.

Um legado que fica para homenagear,

representar e defender nossa luta.

Marcar posição.

O Clariô sim terá vida longa

Nos eternizará.

E refletirá toda minha gratidão.


Obrigada Meu Bem!

Por tanto amor e infinita alegria.

Por estar presente, com tanta excelência, nos meus dias

E por permitir minha presença

Tão intensa

Até o ultimo segundo de sua vida.

E ainda digo:

Até que eu ouça o terceiro sinal

Escolho encarar, com coragem,

e em sua homenagem

este Ensaio Geral

Teimando, te amando

E tentando "estar sempre bem"

como você foi pra mim

Até que chegue ao fim

Meu ato

Final.


Tudo vai clarear.