domingo, 15 de setembro de 2013

CURTA TEMPORADA

Jung e Nietzsche concordam que nada se teme mais que ganhar consciência.
Quando o mundo "parece" explicado, Jockymann nos traz esse texto irônico e revelador.
Quais ideologias nos pertencem, ou a qual somos pertencidos? Que imagem fazemos de nós mesmos?  Somos inocentes nessa reflexão? Será que basta não criar de si mesmo uma imagem de "reduto do bem e da honestidade"? 
O bom-mocismo social é o novo puritanismo hipócrita do início do século XXI. Os crimes não cometidos já estão no fundo dos corações há muito tempo e, para serem executados, só lhes falta a segurança da impunidade.  E o que estamos assistindo? Dessa forma, “se o caráter nacional já tiver em seu bojo o maligno, não haverá nada que o teatro possa fazer”, diz Rousseau. Não? Bom, não acreditamos nisso, nem Jockymann.
Aquele que sabe deve aprender a dizer sua sabedoria e, com frequência, de modo que ela soe como uma tolice, inocentemente!
 "Ter opinião sobre tudo" é um fetiche típico do humano hoje, e em TRAPPOLA (O INOCENTE) as opiniões vão surgindo aos poucos, em doses homeopáticas, e vão se transformando em "dogmas", em ideologia.
Logo fica claro que a grande força do texto está em sua estrutura "pericial", quase jurídica dos diálogos, o que obriga os atores a uma interpretação dúbia ao objetivar uma descoberta sem se revelar. Um ácido embate frente a uma situação limite: o cerceamento da liberdade num regime fascista, que só é possível existir quando inocentes acreditam que é possível uma convivência sadia num regime totalitário. Não será melhor uma possível absolvição de um culpado, do que uma possível condenação de um inocente? A fala final do espetáculo abre a discussão dessa questão, e é sua, espectador, a "sentença"!
Levantar este espetáculo é desafiador no sentido mais saboroso da palavra. É exatamente na palavra que ele se alicerça, cresce, evolui e se transforma. Como diretor, o trabalho é provocar cada ator para uma reflexão verticalizada das frases, já que as palavras soam superficiais, mas engendram objetivos, ideias e um jogo dialético criminoso entre os personagens.
Colocá-los concretamente dentro de uma cela é primordial, onde aconteça o que for, não há saída, a ação tem que continuar, e mesmo os silêncios tem ruídos reveladores.
Qualquer aparato cênico a mais só iria atrapalhar o que deve ser o foco desse trabalho: a interpretação dos atores. É aí que o espetáculo mostra sua força. O ator e a palavra. Esta, tão abandonada pelo "teatro moderno", mas nunca esquecida pelos grandes autores. O coletivo a palavra e o gesto encontrou em Jockymann seu interlocutor certeiro. E a dimensão a ser atingida não é simples. Trata-se da palavra de maior conteúdo da história: "liberdade". E se ainda não a conquistamos, somos todos culpados, pois sermos inocentes nos torna extremamente "perigosos".
                                                 
                                                                                                                                                                will damas

 

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