Jung e Nietzsche concordam que nada se teme mais
que ganhar consciência.
Quando
o mundo "parece" explicado, Jockymann nos traz esse
texto irônico e revelador.
Quais ideologias nos pertencem, ou a qual somos
pertencidos? Que imagem fazemos de nós mesmos?
Somos inocentes nessa reflexão? Será que basta não criar de si mesmo uma
imagem de "reduto do bem e da honestidade"?
O bom-mocismo social é o novo puritanismo hipócrita
do início do século XXI. Os crimes não cometidos já estão no fundo dos corações
há muito tempo e, para serem executados, só lhes falta a segurança da
impunidade. E o que estamos assistindo?
Dessa forma, “se o caráter nacional já tiver em seu bojo o maligno, não haverá
nada que o teatro possa fazer”, diz Rousseau. Não? Bom, não acreditamos nisso,
nem Jockymann.
Aquele que sabe deve aprender a dizer sua sabedoria
e, com frequência, de modo que ela soe como uma tolice,
inocentemente!
"Ter
opinião sobre tudo" é um fetiche típico do humano hoje, e em TRAPPOLA (O
INOCENTE) as opiniões vão surgindo aos poucos, em doses
homeopáticas, e vão se transformando em "dogmas", em ideologia.
Logo fica claro que a grande
força do texto está em sua estrutura "pericial", quase jurídica dos diálogos, o
que obriga os atores a uma interpretação dúbia ao objetivar uma descoberta sem
se revelar. Um ácido embate frente a uma situação limite: o cerceamento da
liberdade num regime fascista, que só é possível existir quando inocentes
acreditam que é possível uma convivência sadia num regime totalitário.
Não
será melhor uma possível absolvição de um culpado, do que uma possível
condenação de um inocente? A fala final do espetáculo abre a discussão dessa
questão, e é sua, espectador, a "sentença"!
Levantar este espetáculo é desafiador no sentido
mais saboroso da palavra. É exatamente na palavra que ele se alicerça, cresce,
evolui e se transforma. Como diretor, o trabalho é provocar cada ator para uma
reflexão verticalizada das frases, já que as palavras soam superficiais, mas
engendram objetivos, ideias e um jogo dialético criminoso entre os personagens.
Colocá-los concretamente dentro de uma cela é
primordial, onde aconteça o que for, não há saída, a ação tem que continuar, e
mesmo os silêncios tem ruídos reveladores.
Qualquer
aparato cênico a mais só iria atrapalhar o que deve ser o foco desse trabalho: a
interpretação dos atores. É aí que o espetáculo mostra sua força. O ator e a
palavra. Esta, tão abandonada pelo "teatro moderno", mas nunca esquecida pelos
grandes autores. O coletivo a palavra e o
gesto encontrou em Jockymann seu interlocutor
certeiro. E a dimensão a ser atingida não é simples. Trata-se da palavra de
maior conteúdo da história: "liberdade". E se ainda não a conquistamos, somos
todos culpados, pois sermos inocentes nos torna extremamente "perigosos".
will damas
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