quinta-feira, 19 de julho de 2012

Gente que pensa deve ser divulgada!


ESCRITURAS SAGRADAS: os manuais escritos por Deus

Mas que teimosia essa de ficarem procurando na Bíblia, Torah, Alcorão, Vedas, psicografias new age, mensagens extraterrestres, mestres indianos e escrituras em geral, justificativas e regras para nossas ações!!!!!!! Até quando vamos ficar lendo e relendo esses livros procurando dicas de como guiar nossas vidas? Página tal, parágrafo tal, versículo tal..... Se algum DEUS quisesse esclarecer seus desígnios mandava bilhetinhos, e-mails, torpedos ou escrevia no céu em letras garrafais. Até quando vamos ficar nos convencendo que essas regras vêm do além ao invés de olharmos para nossa realidade e o que estamos fazendo dela, ou, o que estamos fazendo conosco?

Frei Betto fez uma corajosa (para o seu contexto) tentativa de apoiar a questão da homoafetividade com um artigo publicado no jornal O Globo, em 23 de maio de 2011 (link para leitura integral: http://polivocidade.blog.br/2011/05/25/4643/): descreveu várias justificativas no texto bíblico para embasar sua defesa de que os gays devem ser incluídos, pois Jesus ensinou não excluir, e que talvez se possam encontrar atitudes homoafetivas na escritura sagrada, ou seja, a homossexualidade é um fato.

Para pegar carona na fama do Frei, pois político é craque nisso, o vereador João Gustavo da Câmara de Niterói entrou com uma Moção de Repúdio contra o artigo citado, justificando seu argumento em outras partes do mesmo texto bíblico:

Como bem dito pelo Frei em seu artigo, a Igreja Católica não discrimina o homossexual. De acordo com seu Catecismo no parágrafo 2358, estes devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitando-se, assim, todo sinal de discriminação injusta, ainda porque em Jo: 4, 7, nos ensina a amarmos uns aos outros, porque o amor vem de Deus.
Insta dizer, e continuando, nos parágrafos 2357 e 2359 do Catecismo, embora não haja discriminação, apoiando-se na Sagrada escritura e na tradição, sempre declarou que atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados. São contrários à lei natural. Não origina, assim, o dom da vida. Em caso algum podem ser aprovados.
Portanto, embora, todos nós sejamos filhos amados de Deus, a prática da homossexualidade não deixa de ser contrária aos ensinamentos da Sagrada Escritura, por isso, embora amados, os homossexuais são chamados à castidade.
Em Romanos 1, 26 ao 28: “Por isso Deus os entregou a paixões vergonhosas. Sua mulheres mudaram o uso natural em uso a natureza. Os homens também, abandonaram o uso natural da mulher, arderam em desejos um pelo outro, homem como homem, cometendo torpezas e recebendo em si mesmos a pagar por suas perversões.”

Santa paciência!!!

No texto do Frei, apesar da tentativa de se opor ao conservadorismo homofóbico, que muito agradecemos, há ainda a expressão do preconceito religioso quando cita: “Ninguém escolhe ser homo ou heterossexual. A pessoa nasce assim. E, à luz do Evangelho, a Igreja não tem o direito de encarar ninguém como homo ou hetero, e sim como filho de Deus, chamado à comunhão com Ele e com o próximo, destinatário da graça divina”.; a homossexualidade não é opcional e portanto não pode ser considerada como culposa? Por que se fosse opcional seria um desvio de caráter? E quem pode determinar se é opcional ou inata?

É uma pena que tenha colocado a questão nesses termos porque ressalta a permanência do preconceito. O que deve ser respeitado é a diferença em si e não dependendo de como ela surge. Mas nesse caso seria pedir para um Frei deixar de ser Frei já que seu credo permite incluir os excluídos, porém ainda entendendo que são excluíveis. Existe um certo e um errado porém os certos devem ser generosos e aceitar os errados. E é dessa forma que pensa muita gente que vem até defendendo as causas homossexuais ao invés de gastar suas energias lutando contra o próprio preconceito. Seria mais útil.

Pior do que a emenda vem o soneto do senhor vereador que concorda que o supremo ama a todos os seus filhos, mas acha que alguns deles não estão se comportando bem, com atos “desordenados”, contra a “lei natural”; por natural e ordenado entenda-se: procriação. Fora desse contexto as pessoas podem ser amadas POR DEUS, mas por nós não serão, pois não toleraremos seu comportamento. Não vamos matar ninguém (ufa!), mas exigiremos que eliminem sua sexualidade.

E como vão conseguir tal feito se nem dos padres, bispos e arcebispos conseguiram? Será que vão aplicar a técnica da pedofilia para a busca da castidade? Então aí a contradição chega a ser ridícula!

Assim estamos há 2 mil anos nas discussões entre os cristãos e outros tantos anos em outras discussões entre os outros grupos religiosos. Usar o argumento “são contrários à lei natural”, é no mínimo o cúmulo da arrogância, pois se por lei natural entendermos a lei determinada pelo criador do universo seria necessário ter comprovação indiscutível de que o que está escrito na Bíblia, no caso, foi realmente um DEUS quem mandou escrever.... fica difícil provar.

Mas é essa mesma justificativa sem comprovação que os mulçumanos usam para aplicar penas bem mais severas que nas religiões cristãs. Nos países de maioria mulçumana a homoafetividade é um crime pago até com a vida em muitos casos, até hoje!!! Contudo a própria atitude de segregação da mulher acaba incentivando as práticas homossexuais que são absolutamente escondidas.

Porém não só nos países de religião islâmica, na Ásia existem leis de punição ou reconhecimento da prática homoafetiva das mais diversificadas: os países que não castigam com morte ou prisão cobram multas em dinheiro por atos sexuais com o mesmo gênero! Chega a ser cômico imaginar a cobrança, gerando mais constrangimento moral em quem cobra do que em quem é cobrado; pagando pode? As religiões que não penalizam a conduta simplesmente não a comentam.

A prática de ficar alegando o que Deus disse ou deixou de dizer é antiqüíssima. Por um lado é reconhecível a ansiedade que temos de entender o sentido de nossa existência e ficarmos procurando sinais em busca dessa resposta reconfortante. Mas por outro lado transformar esses textos ou até regras estabelecidas oralmente, em leis irrefutáveis, está fazendo nossa humanidade marcar passo ao invés de amadurecer espiritualmente e nos fazendo retroceder eticamente.
O que temos visto parecem muito mais justificativas para condutas violentas e separatistas do que o contrário. E pior ainda, o que temos visto é a utilização dessas escrituras para um único objetivo: PODER. O ser humano mesmo não é valorizado em suas escolhas e religião hoje deixou de ser uma questão espiritual para se tornar uma questão POLITICA. (“hoje” foi bondade nossa). Todas as discussões em torno dos conceitos religiosos tiveram sempre o mesmo objetivo: dominação, manipulação.

Está mais do que na hora de eliminarmos esse véu hipócrita que distingue a religião da política, já que nossas bancadas das câmaras e do senado estão atuando baseadas em leis que não são da nossa Constituição Federal.

A questão da homofobia é apenas um exemplo claro de como as religiões se valem de suas escrituras para perpetuarem seus poderes. Os relacionamentos homoafetivos SEMPRE existiram e sempre existirão, sejam considerados doença ou distúrbio. São um fato tão irrefutável quanto é a heteroafetividade. Não importa se é uma opção racional, voluntária, ou se é programação genética que nos faz desta ou daquela forma.

E não é porque a manutenção da raça humana depende da procriação que está justificada a recusa da homoafetividade. Um assunto não tem nada a ver com o outro; o argumento “se formos todos homoafetivos a humanidade para de crescer” é falso e manipulador. Até que a humanidade parar de crescer um pouco não seria nada mal, mas nunca seremos todos homoafetivos e, portanto argumento desclassificado.

Também não serve mais como argumento a tal “lei natural”, pois a afetividade é natural em qualquer formato. Por natural entendemos aquilo que não foi criado artificialmente e até onde se sabe não existiu nenhum laboratório de criação do vírus da homoafetividade para ser injetado por seringas. É um laço espontâneo da natureza, não só na humana inclusive.

Não existe nenhuma outra justificativa para a homofobia do que o poder, assim como qualquer exclusão de minorias; e às vezes nem são minorias numéricas como no caso da mulher, mas apenas grupos que se diferenciam do modelo de supremacia.

Não importa que grupo esteja sendo excluído, o perigo está no ATO da exclusão. O clássico exemplo oferecido por Adolf Hitler ainda não surtiu o efeito completo.

Toda e qualquer manifestação que gere a diferenciação deve ser evitada.

Não existem DIFERENÇAS entre nós. O que existe é a pluralidade.

Nenhum manual pode ter mais importância ou valor do que nossa humanidade. É ela que devemos preservar, respeitar e amar acima de todas as “coisas”/livros.




por Dani Nefussi