quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A IMPORTÂNCIA SOCIAL DA ARTE

Sou um cidadão qualquer, sem nenhuma ligação direta com a política, mas com a consciência da sua imensa importância e da coragem necessária para exercê-la. Sou um Artista. E é como artista que venho tratar de um assunto controverso. A IMPORTÂNCIA SOCIAL DA ARTE. Creio que é imensa. A Arte não faz pão nem derruba Governos, mas enobrece a alma. Um país é respeitado e dignificado pela sua Arte, no final das contas. A Arte é um retrato de um país. Nós, artistas, sabemos disso. Temos certeza desta importância. Mas não sabemos explicá-la, não temos a pedagogia necessária. De modo que fica assim. Quem sabe, sabe. Quem não sabe, não saberá. Porém tentemos. A Arte realmente parece de uma importância insignificante diante dos outros problemas do país. É apenas uma aparência. Sem a Arte, o Estado se desestabiliza. Cai em ruínas, como um edifício implodido. A médio prazo, quero dizer, porque a arte age modificando as consciências. E este é um processo lento, embora perene. Porém insubstituível. Na nossa agressiva e competitiva sociedade moderna, somente a Arte lembra os homens os valores que construirão a civilização: a honra, o patriotismo, a moral, a solidariedade, a cidadania. Com sua voz débil, ela grita para quem quiser ouvir que vivemos num mundo cruel, que poderia ser muito melhor. Porque os problemas sociais são todos culturais. "O problema da fome não é a fome. É a indiferença quanto à fome.", dizia meu saudoso Betinho. O mesmo acontece com a saúde pública, a educação e as outras muitas carências do nosso bravo país. O problema não é a corrupção. É a indiferença quanto à corrupção. Vivemos numa época e num país onde a Arte é violentamente desprezada, como ficou claro recentemente na intenção de corte da verba mínima que caracteriza o Ministério da Cultura. É a Arte que fica na História. Posso não saber quem era o Rei da Inglaterra nos séculos XVI e XVII. Mas Shakespeare, sei perfeitamente quem é. Quem seriam os poderosos da antiga Grécia nos tempos de Pitágoras, ou Platão? Foram esquecidos. Somente a Arte é um legado para o futuro. E não resta dúvida que todos os grandes avanços humanos provem, direta ou tortuosamente, das Artes. A Arte, ela salta, melhor que o gato. Por cima da aparência. E aquele que recebe a mensagem do Artista salta também, por cima do muro sensorial e das limitações morais com que está acostumado a perceber o mundo. A cultura é conhecimento, é educação. Diz-se que é necessário conhecer a vida para compreender a Arte. Está errada a ordem da frase: é preciso conhecer a Arte para entender a Vida. Os homens já foram mais artistas que hoje. Antigamente as roupas eram belas, os móveis eram belos, os talheres eram belos. O homem já esteve mais próximo da Arte. Embora Ela sempre sobreviva, nas adversas circunstâncias. Entremos de madrugada num cabaré suspeito. Estará tocando uma linda canção vulgar, para um casal que dança agarrado. Ela tem vestido justo, ele revolver na cintura. Dançam a canção. Nem o bandido pode viver sem a Arte. Se alguém quer morrer, morrer mesmo de não ter jeito, toque para ele uma música de Mozart, ou mostre um quadro de Renoir, um bom filme ou até mesmo simplesmente conte uma boa e sólida humana história. Se isto não salvá-lo, se a depressão persistir, desista. O homem está morto. A Arte não é o espelho da Vida, é sua propaganda. O artista sabe que o mundo tem caminhos. Sabe que não pode mudá-los mas que, de alguma forma esquisita, o mundo o consulta antes de dobrar a esquina. É costumeiro unir e confundir a Cultura e a Arte com o lazer e a diversão. Ambas são responsabilidades do Estado preservar. O futebol, o carnaval, as festas e jogos populares, os bailes onde tocam a melhor música do mundo inteiro, são importantíssimos para a saúde social. A Cultura e a Arte são o lazer construtivo. A Arte é o lazer que dignifica a alma e torna o homem mais apto a lutar contra a desigualdade, a corrupção, o egoísmo e outros males modernos de igual dimensão.

Nenhum comentário: